"A Nacional"

PORTO (Portugal): Edifício "A Nacional".

Com um esboceto de dois edifícios de gaveto, datado de finais de 1919, Marques da Silva acabará por determinar o arranque da Avenida dos Aliados, então ainda designada Avenida das Nações Aliadas. Eles vão fixar a imagem urbana e monumental que será tomada como modelo para as construções seguintes, bem ajustada aos procurados valores de prestígio e símbolos individualizadores deste centro representativo.
A seguradora "A Nacional", que em Abril de 1918 havia comprado o terreno do cunhal poente formado pelo alinhamento da praça da Liberdade e da nova Avenida, e que um ano depois tem já aprovado o desenho para a sua nova sede da autoria do arquitecto Oliveira Ferreira, não ficará indiferente à proposta de Marques da Silva e em Abril de 1920 acaba por solicitar à Câmara a substituição do projecto.
Concentrado no destino e posição de destaque do edifício, Marques da Silva opta por lhe dar uma imagem arquitectónica de referências franco-flamengas que, com um carácter instrumental e configurador, recorda as Câmaras Municipais de Roubaix ou Tours, desenhadas pelo seu mestre francês Victor Laloux, e traz para o Porto uma certa imagem da cidade de Anvers no arranque da Leystraat.
No alçado de grande movimentação, produzida pelas constantes reentrâncias e saliências e intensos efeitos de claro-escuro, destacam-se os bow-windows laterais rematados por lucarnas que acentuam uma desejada verticalidade (já bem conseguida pela acentuação volumétrica do torreão de ângulo), mas também o grupo escultórico de Sousa Caldas sobre o frontão – ao centro o Génio da Independência, símbolo da instituição, e, a ladeá-lo, as duas figuras femininas reclinadas representativas de ‘Seguro e Vida’ e ‘Acidente de Trabalho’ – ou ainda o relógio, que do topo do torreão marca as horas da cidade.
Mas, se pelo exterior predomina uma composição e sistema decorativo de matriz beaux-arts, o espaço interior revela uma surpreendente funcionalidade e racionalidade: circula-se através de galerias e pontes que cruzam o vazio central de pé direito quádruplo, no projeto original iluminado zenitalmente, e os vários pisos, de planta repetitiva, estão interligados por um elevador transparente com escada circundante. É a apologia espacial do escritório moderno, agenciada na denunciada utilização do betão armado e no pragmatismo de toda a construção.
"A Nacional" pressupõe, desde o esboceto de 1919, um confronto simétrico com o que viria a ser outro projecto do mesmo arquitecto, o edifício para Joaquim Pinto Leite, iniciado apenas em 1922 e onde, em 1930, se instala o Bank of London & South America. Fazendo avançar a fachada de um edifício pré-existente para o alinhamento nascente definidor da nova Avenida,Marques da Silva figura neste projecto, sobretudo, uma forma de entrelaçamento do velho e do novo, unidos para dar uma imagem mais moderna e cosmopolita à cidade.
Estas duas obras são exemplares do momento de transformação dos valores arquitectónicos que ocorre desde o início do século XX. Conciliam, de forma harmoniosa e complementar, o contexto e história portuenses com uma lição de modernidade e progresso a uma escala internacional, e conciliam igualmente os aspectos práticos e instrumentais com os valores artísticos e plásticos do projecto e da arquitectura edificada.

info: https://fims.up.pt/

Comentários

Mensagens populares