São Felizes dos Galegos: Memórias de uma Vila Raiana

Aninhada nas fronteiras rugosas da Península Ibérica, onde a história ressoa entre pedra e céu, ergue-se a encantadora aldeia de São Félix dos Galegos, uma joia medieval da província de Salamanca, bem junto à raia portuguesa. Com raízes que remontam ao século XIII, esta povoação fortificada é um testemunho da época da Reconquista, mesclando arquitetura castelhana com o espírito resiliente de terras que guardavam contra invasões. O nome evoca os “felizes galegos”, recordando antigos povoadores da Galiza, e hoje, insere-se no Parque Natural Arribes del Duero, reconhecido pela UNESCO pela sua rica biodiversidade e desfiladeiros dramáticos.

No coração da vila, a Plaza de España emerge como o centro nevrálgico onde a vida quotidiana se desenrola sob o olhar vigilante do Ayuntamiento; um edifício nobre com arcarias que guarda os ecos de feiras e festejos passados.

Os caminhos de pedra, ressoando com os passos de gerações, levam-nos à Igreja Paroquial de Nossa Senhora entre Dois Álamos, um santuário de paz e beleza. No seu exterior robusto, a torre sineira desafia o céu enquanto, no interior, a nave gótica de arcos elegantes se eleva em devoção, cercando o altar-mor ornamentado, onde o tempo parece suspenso.

Subindo pelos caminhos que percorrem a vila, os acessos ao Castelo revelam a natureza defensiva desta "Villa Histórica". O Castelo de São Felizes, cuja imponente Torre de Menagem domina a paisagem, é um monumento de fronteira por excelência. Erguido originalmente por D. Dinis de Portugal e mais tarde reformulado pela Casa de Alba, as suas muralhas são um lembrete das lutas seculares entre reinos. Hoje, a torre não guarda soldados, mas sim a memória de um horizonte que se estende até às margens do Douro.

Elevando-se acima dos telhados, a Torre Campanário, a voz da vila, marca o ritmo das horas com os seus sinos. Sentinela sonora, convoca ao presente sem esquecer o nobre peso do passado.

São Felizes dos Galegos não é somente um destino, mas um estado de espírito onde a fronteira se dissolve na beleza intemporal da Beira e de Castela. Daqui, a vista alcança horizontes sem limites, e o eco distante dos sinos convoca-nos para um lugar onde a História se fez em pedra viva.

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