Santuário de Panóias
VILA REAL (Portugal): Santuário de Panóias.
O Santuário de Panóias, durante muitos anos denominado Fragas de Panóias, foi alvo de variados estudos desde o séc. XVIII até aos nossos dias, por parte de investigadores nacionais e estrangeiros. Cabe aqui referir A. Gonçalves de Aguiar (1721), J. Contador de Argote (1732/34), F. F. Pereira (1836), Alexandre Herculano (1839), E. Hubner (1869/92), G. Pereira (1895), J. Leite de Vasconcelos (1888/97), Félix Alves Pereira (1906), F. Russell Cortez (1947), S. Lambrino (1953), A. Garcia y Bellido (1955), e, mais recentemente, J. Alarcão (1976), A. Tranoy (1981),), Armando Coelho F. Silva (1986), J. R. dos Santos Júnior (1989), T. Hauschild (1995), Géza Alföldy (1997) e A. R. Colmenero (1999).
É constituído por um recinto onde se encontram três (entre outras) grandes fragas onde foram talhadas várias cavidades, de diversos tamanhos, bem como escadas de acesso. Numa das rochas foram também gravadas inscrições. Uma das inscrições, embora existisse ainda no séc. passado, foi destruída, no entanto, além da sua leitura, sabemos onde estava localizada. Existem hoje três inscrições em latim e uma em grego, e nelas estão as instruções dos rituais celebrados em Panóias, a identificação dos deuses e a do dedicante. Podem traduzir-se da seguinte maneira:
"G.C. Calpurnius Rufinus consagrou dentro do templo (templo entendido como recinto sagrado), uma aedes, um santuário, dedicado aos Deuses Severos"
"Aos Deuses e Deusas e também a todas as divindades dos Lapitaes, Gaius C. Calpurnius Rufinus, membro da ordem senatorial, consagrou com este recinto sagrado para sempre uma cavidade, na qual se queimam as vítimas segundo o rito."
"Ao altíssimo Serápis, com o Destino e os Mistérios, G. C. Calpurnius Rufinus, claríssimo." "Aos deuses, G. C. Calpurnius Rufinus, claríssimo, com este (templo) oferece também uma cavidade para se proceder à mistura." Com base nos estudos sobre o monumento, podemos hoje dizer que tivemos no local um ritual de iniciação com uma ordem e um itinerário muito precisos - a matança das vítimas, o sacrifício do sangue, a incineração das vítimas, o consumo da carne, a revelação do nome da autoridade máxima dos infernos, e por fim a purificação.
Hoje em qualquer das três rochas temos vestígios dos pequenos templos que eram parte integrante do recinto. Restam também as diferentes cavidades rectangulares que serviam para queimar as vísceras, uma cavidade redonda-gastra, para assar a carne, e ainda uma outra onde se procedia à limpeza do sangue, gordura e azeite. Outras cavidades estavam relacionadas com os pequenos templos existentes, e destinar-se-iam a guardar os instrumentos sagrados usados nos rituais.
Temos portanto em Panóias testemunhos de um rito de iniciação dos mistérios das divindades infernais. As prescrições identificam-se como partes de uma lei sagrada, mas aplicadas a um local concreto e preciso. A escolha deste local não foi portanto feita ao acaso, mas sim fruto de critérios específicos e previamente estabelecidos. A topografia do local desempenhou aqui um importante papel.
C. G. Calpurnius Rufinus, senador, que introduziu este culto em Panóias, onde já haveria um culto indígena, deve ter sido um alto funcionário do governo provincial romano. A sua língua original foi o grego, mas na inscrição o uso da palavra "mystaria" em vez de "mysteria" demonstra o uso de um dialecto dórico ou pseudo-dórico. Os dados sobre a sua origem permitem supor com grande probabilidade que sejam Perge de Panfilia, cidade de tradição dórica e um dos centros do culto de Serápis, e situada na Ásia Menor. A sua presença nesta região não deverá ser alheia à exploração de ouro efectuada em Três Minas e Jales (Vila Pouca de Aguiar).
A construção deste recinto sagrado teria sido realizada neste local entre os finais do Séc. II e os inícios do Séc. III.
[OSousa]
info: http://www.patrimoniocultural.pt/
Comentários
Enviar um comentário