Igreja dos Carmelitas Descalços e Igreja de Nossa Senhora do Monte do Carmo
Do conjunto formado pelas igrejas dos Carmelitas e da Venerável Ordem Terceira do Carmo é mais antiga a primeira, que pertencia ao extinto convento, hoje ocupado pela Guarda Nacional Republicana. Data de 1616 a autorização régia para a instalação dos carmelitas no Porto, remontando a 1619 a primeira pedra do novo edifício. As obras prolongaram-se durante a primeira metade do século XVII e a igreja, concluída em 1628, só viu a campanha decorativa terminada cerca de 1650. A sua arquitectura, de um "barroco austero" (QUARESMA, 1995), apresenta planta de nave única com seis capelas laterais e fachada de dois andares, ritmada por pilastras que se prolongam sobre o frontão triangular, terminando em forma de balaustres. Aos três arcos de volta perfeita do primeiro registo, correspondem outros tantos nichos com as imagens de São José e Santa Teresa de Jesus e, ao centro, Nossa Senhora do Carmo. No segundo registo, abre-se igual número de janelas e o tímpano exibe o brasão dos carmelitas, numa iconografia que define um programa de exaltação da Ordem.
No interior do templo predomina a talha dourada, que extravasa os retábulos das seis capelas e estende-se a determinadas zonas da abóbada, enquadrando as pintura sobre os arcos das capelas. No transepto, a capela do lado da Epístola, dedicada a Nossa Senhora do Carmo foi edificada em 1639 por Jerónimo da Mota Teixeira, e a do lado oposto, da invocação de Nossa Senhora das Dores, em 1637 por Manuel Tavares. Por fim, a capela-mor exibe um retábulo de 1767, desenhado pelo padre Joaquim Teixeira Guimarães e executado por José Teixeira Guimarães.
Entre a igreja e o edifício conventual encontra-se a torre sineira, originalmente do lado oposto, mas deslocada aquando da edificação do templo da Ordem Terceira. É revestida por azulejos e termina numa cúpula em forma de bolbo.
Do lado oposto, ergue-se a igreja da Ordem Terceira, cuja linguagem rococó contrasta vivamente com a austeridade já referida da fachada do Carmo. A Irmandade havia sido instituída em 1736, mas algumas divergências internas levaram a que os estatutos apenas fossem impressos em 1751, ano em que os carmelitas cederam os terrenos para a edificação do templo. Após novas divergências, a primeira pedra foi lançada em 1756, iniciando-se então a construção, sob projecto de José de Figueiredo Seixas. O templo estava concluído em 1762, depois de Nicolau Nasoni ter sido chamado a avalizar o traçado arquitectónico. Contudo, as campanhas decorativas prolongaram-se ainda por longos anos, e os retábulos das seis capelas da nave remontam a 1771, sendo o da capela-mor da autoria de Francisco Pereira Campanhã e de 1773.
A fachada, profusamente decorada, é flanqueada por duplas pilastras, avançadas em relação ao corpo principal. Este é aberto por um portal ladeado pelos nichos com as imagens dos Profetas Elias e Eliseu, correspondendo-lhes, no segundo registo, e sobre a balaustrada, duas janelas e um nicho central, envidraçado, com a imagem de santa Ana, em jaspe. O tímpano exibe, tal como a igreja dos carmelitas, o brasão da Ordem, e sobre o frontão, as esculturas dos quatro Evangelistas, executadas entre 1764 e 1765.
Neste conjunto, destaca-se a fachada lateral (aberta por janelas de balaustradas), no prolongamento do alçado do Hospital, por ter sido totalmente revestida por azulejos, em 1907 e 1912. Estes, a azul e branco, representam a aparição da Virgem a São Simão Stock e uma série de elementos heráldicos carmelitas, bem como alusões ao escapulário (uma devoção particular dos camelitas) (MARTINS, 2001, pp. 89-93). Foram pintados por Carlos Branco, segundo desenho de Silvestre Silvestri, nas fábricas do Senhor do Além e da Torrinha, em Vila Nova de Gaia. Trata-se de um dos mais bem conseguidos revestimentos figurativos de alçados exteriores, de cariz tradicionalista e revivalista, muito populares na cidade do Porto no inicio do século XX.
(Rosário Carvalho)
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