Igreja de São Miguel do Castelo
GUIMARÃES (Portugal): Igreja de São Miguel do Castelo.
Uma corrente historiográfica nacionalista, e que ideologicamente prolongou o Romantismo do século XIX, perpetuou a lenda de que foi nesta capela de São Miguel do Castelo que teve lugar o baptismo de D. Afonso Henriques. Esta perspectiva visava relacionar directamente o monumento com um facto histórico, tão ao gosto de uma visão politicamente comprometida, em que as obras de arte apareciam como cenário da História. Esta mesma lenda, ao exaltar a ancestralidade da igreja, recuava também a datação do templo que actualmente subsiste. Por esta via, a tardo-românica capela de São Miguel teria feito parte do primitivo complexo palatino de D. Mumadona Dias, na viragem do século IX para o X, e teria permanecido como principal templo da Guimarães condal, ao tempo de D. Henrique e de D. Teresa.
Afastada esta linha de interpretação, a actual igreja de São Miguel do Castelo é um edifício do século XIII, construído durante as primeiras três décadas desta centúria e em condições particularmente difíceis para os seus promotores. Longe de qualquer época de pretenso esplendor condal, a sua edificação aconteceu por iniciativa da Colegiada de Guimarães, aquando da querela que colocou frente a frente esta instituição e o poderoso Arcebispo de Braga, contencioso que levou mesmo ao confronto armado entre as duas partes (GRAF, 1986, vol. I, p.157). A construção da igreja justificou-se pela necessidade da Colegiada em dispor de um templo, decisão que escapou à autoridade do titular de Braga.
Estilisticamente, o edifício parece confirmar esse estatuto secundário. Manuel Monteiro, um dos nossos principais estudiosos da Arte Românica, ao realçar a simplicidade da capela, concluiu que se trataria de uma construção, em certa medida, ilegal. Aparelho de silhares pouco cuidados, quase total ausência de decoração, aspecto demasiado compacto dos muros, iluminação escassa, proporcionada por estreitas frestas, e planta muito simples, composta unicamente por nave única e capela-mor justaposta, são indicadores desse carácter ilegal, à margem da acção promotora e normalizadora do arcebispado de Braga.
Tal facto, contudo, não impediu que o templo tenha sido sagrado pelo próprio Arcebispo, em 1239, data que evidencia o seu avançado estádio estilístico, numa altura em que o Gótico começava a despontar por todo o país e em que o Românico se preparava para ser uma linguagem artística de resistência, cantonada, preferencialmente, nas regiões do Interior Norte.
Em ruína quase total na década de 70 do século XIX, uma comissão de habitantes notáveis de Guimarães, reunidos em torno da Sociedade Martins Sarmento, procedeu a uma acção de restauro, que manteve as características essenciais que a igreja adquiriu ao longo da época moderna. Já no século XX, a DGEMN empreendeu aqui uma das suas primeiras acções de restauro, de acordo com as teorias de unidade de estilo então em voga. Todas os elementos não-medievais da igreja foram suprimidos, especialmente os altares barrocos da nave. De entre as numerosas obras então efectuadas, salienta-se ainda a supressão do campanário, o entaipamento de portas e de janelas aleatoriamente abertas no século XIX, ou a colocação dos modilhões que suportam o tímpano do portal principal.
Na actualidade, a capela de São Miguel integra-se num dos mais importantes conjuntos monumentais do país, no mesmo núcleo que o Castelo de Guimarães e o Paço dos Duques de Bragança, este último um Serviço Dependente do IPPAR responsável pela gestão de todo este complexo monumental.
PAF
info: www.igespar.pt/pt/patrimonio/pesquisa/geral/patrimonioimo...
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